Como encontro as respostas para as perguntas mais difíceis
O que aprendi escrevendo três páginas por dia, todos os dias.
Toda manhã, escrevo três páginas livres à mão — as famosas páginas matinais sugeridas por Julia Cameron no livro O Caminho do Artista. Elas transformaram meus dias e, consequentemente, a minha vida.
Essa escrita poderia ser chamada de escrita terapêutica, escrita livre, journaling, escrita intuitiva, escrita de fluxo de consciência — e ela é bem diferente da escrita comum. Ela é a conversa que tenho comigo mesma. A resposta mais clara de todas as minhas perguntas. São respostas limpas, sem interferência, puras, diretas.
Quando escrevo, é como se eu me reencontrasse. Hoje em dia, fico até ansiosa (no melhor dos sentidos) por esse momento. Nos finais de semana, quando não escrevo, sinto saudades de mim. Sinto falta dos meus próprios direcionamentos, de me reconectar com a minha essência. Porque é exatamente isso que a escrita me traz.
Hoje ela flui com naturalidade. Me dá a clareza mais pura sobre o que preciso saber. Responde até as perguntas mais cabeludas.
Confesso: não foi fácil construir essa intimidade. No início, eu nem sabia como conversar com ela. Até hoje, às vezes me pego fazendo listas do que preciso resolver. Mas com o tempo, aprendi a acessar mais rapidamente o que é essencial para o meu dia.
Não se iluda: repito muito as mesmas conversas. São temas que reverberam por muito tempo em mim. E, para quem lê de fora, isso pode ser entediante — eu diria até insuportável. Palavras cortadas, pontuação ausente, assuntos que mudam no meio da frase. Mas essa conversa é só minha. Não foi feita para ser lida, nem publicada. O texto é ruim — mas a escrita me entende. E o mais importante: ela não me julga. Me permite ser livre. Sem amarras, sem vergonha, sem medo de escrever o óbvio… ou o inconfessável.
Meus desejos mais obscuros estão ali. Meus medos mais vergonhosos também. É nesse espaço que eu escrevo o que não teria coragem nem de dizer à minha terapeuta. Mas essa confiança não nasce do dia pra noite — ela se constrói. E exige prática.
Escrever sobre as partes mais escondidas da alma é difícil. Trazer à luz algo soterrado sob 30 camadas de tapetes é, juro, horrível e assustador. Mas é assim que se constrói intimidade com a escrita: quando você confia a ponto de dizer tudo — tudo mesmo. É esse pacto de confiança que traz, enfim, as respostas que você tanto procura.
Traga sua verdade com sinceridade, e a escrita responderá na mesma medida. É uma troca. Um pacto.
Meu conselho? Não pense demais. Escreva quantas bobagens quiser. Escreva suas futilidades sem culpa. Não espere grandes respostas de início. Apenas se doe. Se entregue. Priorize esse tempo. Deixe fluir.
Com o tempo, a escrita começa a te guiar. Mas, pra isso, é preciso confiar — confiar que esse tempo com você mesma vai te fazer bem. A escrita vai te mostrar um caminho direto até a sua essência mais pura.
E quando acessamos essa essência, tudo faz sentido. Sabemos quais passos dar. Enxergamos com mais clareza. É preciso acreditar nisso também: que existe dentro de você uma resposta para tudo o que procura. Há uma luz pulsando aí dentro, só esperando ser acessada.
A escrita é um canal. Uma ferramenta. Um caminho. Pode chamar do que quiser. Mas acredite.Acredite no que ela tem a te dizer.
Tenha compaixão. Deixe fluir. Nem todo dia você vai encontrar respostas. Pode ser repetitivo, pode parecer confuso. Tudo bem. Isso também faz parte do fluxo.
Não importa. Só escreva. Confie.
E, quando estiver pronta, pergunte. As respostas virão. E, então, acredite nelas.
O novo livro da Julia, Trilhando o Caminho do Artista, é sobre isso: usar a escrita como orientação. E eu achei perfeito para ser o fio condutor de um próximo grupo que quero criar.
Trabalhar com os livros da Julia Cameron em grupo é algo profundamente potente e enriquecedor. O poder da egrégora que se forma quando nos juntamos é maravilhoso. Esses grupos não são terapias, mas são profundamente terapêuticos. Eles nos espelham — como falei nessa edição —, desarmam o nosso guerreiro e nos colocam em contato com a nossa criança, com a nossa essência, sem amarras ou defesas.
Se você quiser vir junto, clique no botão e saiba todos os detalhes!
Já se inscreveu para a minha próxima imersão?
A segunda edição da Arte de Ser está está muito especial e tem poucas vagas!
Você já se deu uma manhã só pra você, sem pressa, sem cobrança, só com presença e escuta?
No dia 14 de junho, das 9h às 13h, em São Paulo, vou facilitar uma nova edição do Arte de Ser junto com a Luciana Sato. Uma imersão pra quem quer se reconectar consigo, fazer pausas reais, ouvir a si mesma com mais profundidade e acessar o que está pedindo passagem aí dentro.
Usamos a arte como ferramenta central (especialmente a colagem), com momentos de introspecção, meditação guiada e trocas, muito bem pensadas, com outras mulheres. Tudo é conduzido com muito cuidado, em um ambiente acolhedor e seguro.
Não é uma oficina de arte — é uma vivência.
Não é terapia — mas é profundamente terapêutico.
Se você está sentindo que precisa parar um pouco e se escutar de verdade, esse convite é pra você.
Me escreve aqui se quiser saber mais. Vai ser lindo ter você com a gente. 💛
Pra fechar com chave de ouro, porque, no fundo, essa escrita é meu contato com Deus.
Se eu quiser falar com Deus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar, vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar
Se eu quiser falar com Deus: Canção de Gilberto Gil ‧ 1981
Amei, Gabi! A escrita matinal também é isso tudo pra mim. Mudou minha vida e a minha relação comigo e com a escrita. Hoje eu sou e sei que sou, a minha melhor conselheira! A escrita livre me revela e me guia. É através dela que eu encontro com muitas de minhas sombras e com intensa luz. O fluxo de sabedoria que surge com ela é mesmo divino. Eu tenho certeza, escrever me aproxima de Deus, da Deusa eu, mas especialmente abre espaço para a minha humanidade fluir, com cada vez mais liberdade e menos julgamentos.
Ahhh, eu também amo uma escrita matinal! Me identifiquei demais com o que você falou sobre não ser fácil criar essa intimidade e sobre se repetir. Nossa, esses dias mesmo percebi que estava há dias escrevendo sobre a mesma coisa. No fim, toda essa elaboração me ajudou a tomar uma decisão.